A porta de entrada não parava de abrir e fechar. Continuei olhando, sentado na sala de espera do aeroporto. Pessoas com malas passaram, algumas usando óculos escuros. A placa eletrônica continuou a mudar exibindo chegadas, atrasos e cancelamentos. O motorista murmurava com os olhos fixos em seu celular. “Nenhuma palavra dele ainda”. Eu olhei para o meu relógio. Já havia se passado mais de uma hora de quando meu pai prometeu que chegaria.

Desde que me lembro, eu sempre estive sozinho. Meu pai estava sempre ocupado e minha mãe era indiferente. Eles me disseram para fazer o que me fosse dito e não tentar mais nada. Quando eu desobedecia, eles me puniam com silêncio. Eu queria agradar os meus pais.

Minha mãe morreu não faz muito tempo. Meu pai me disse para não chorar e ele mesmo não chorou. Tentei obedecê-lo, mas não foi fácil. Ele decidiu me mandar para a casa da minha avó materna nos Estados Unidos. Ele não parecia muito triste com isso.

O motorista do meu pai me entregou meu passaporte. Era hora de partir. Eu olhei para trás enquanto me dirigia para o portão de embarque. A porta de entrada estava fechada. O motorista acenou para mim. O avião finalmente começou a acelerar na pista. Meu pai realmente não veio.

Olhei pela janela minúscula do meu assento. As nuvens passavam e o céu ficou escuro como breu. A comissária de bordo me trouxe uma refeição e o copo de suco acabou se derramando quando passamos por uma turbulência. Confuso, pedi alguns guardanapos. A comissária de bordo me perguntou se eu estava bem. Meu arroz frito e minha carne estavam embebidos em suco. Minhas mãos estavam pegajosas e minhas
calças estavam molhadas. “Não”, sussurrei de volta, mas a comissária pareceu não ouvir. Ela disse para eu não me preocupar enquanto tirava minha bandeja. Eu balancei a cabeça e continuei olhando para o chão.