Enquanto atravessava a sala-de-aula-que-virou-depósito, que havia virado um esconderijo para nós que não tínhamos para onde ir, eu ajeitei algumas cadeiras.
Enquanto fazia isso, eu levantei algumas mesas que haviam caído e limpei a poeira com a palma da minha mão. A última vez torna as pessoas sentimentais. Hoje era o último dia em que eu iria à escola. Nós decidimos nos mudar duas semanas atrás.
Talvez eu não consiga retornar. Pode ser que eu não veja mais os meus amigos.

Eu dobrei um pedaço de papel no meio e o coloquei em cima da mesa. Eu segurei um lápis, mas, como eu não sabia quais palavras deixar, o tempo apenas passou.
Enquanto eu rabiscava palavras sem sentido, a ponta do lápis quebrou. “Nós devemos sobreviver.” Quando a ponta quebrou, deixou um risco arranhado no papel sem que eu notasse. Entre o pó do grafite – negro como o azeviche – e o risco, haviam
espalhadas histórias miseráveis sobre pobreza, pais, irmãos mais novos e mudança.

Eu amassei o papel, coloquei no bolso da minha calça e me levantei. Quando eu empurrei a mesa, a poeira se levantou. Enquanto eu me virava, eu soprei contra a janela suja e deixei três palavras. Nenhuma despedida seria o suficiente e, mesmo sem dizer nada, eu podia transmitir tudo. “Vamos nos ver novamente.”

Ao invés de uma promessa, era um desejo.